Autor do gol da vitória contra o Pouso Alegre, atacante agradece à família pela carreira e revela que venceu preconceito pelo porte físico“mirrado”
Na tarde em que brilhou ao marcar o gol da vitória sobre o Pouso Alegre, no último sábado, o atacante Gutemberg realizou um sonho no gramado do Estádio João Saldanha. A emoção de balançar a rede no Campeonato Brasileiro extrapolou os limites do campo e levou o jogador a uma viagem ao passado, marcado por privações e dificuldades. “Como um menino de favela, de comunidade… independente se era Série D, Série C ou Série A, eu queria meter um gol no brasileiro. É a realização de um sonho para quem vem de baixo como eu”, disse o atacante, criado no Complexo da Maré, uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro.
Após a partida, ainda visivelmente emocionado, Gutemberg desabafou sobre os obstáculos enfrentados até alcançar o momento mais marcante de sua carreira até agora. “Só a minha família sabe o que passei”, desabafou o autor do gol que garantiu os três pontos e a terceira colocação no Grupo A6 da Série D para o Tsunami. No momento, o azul, branco e vermelho de Maricá é o melhor time do Rio na competição. Dúvidas e preconceito Gutemberg iniciou sua trajetória no futebol aos 12 anos, fazendo testes no Flamengo.
Passou ainda por Vasco, Boavista, Olaria e Madureira, clube onde estreou como profissional. Mas o caminho esteve longe de ser fácil. “No início da minha carreira, sofri muito preconceito devido ao meu porte físico, da altura e estrutura. Achavam que eu era muito franzino para ser jogador profissional. Mas minha família sempre me apoiou, independentemente dessas coisas”, afirmou o atacante, que após um trabalho de fortalecimento físico hoje pesa 60 quilos distribuídos em 1,69m de altura.
O apoio familiar foi essencial para que ele não desistisse. “Se eu estou aqui até hoje, foi primeiramente por Deus, que me deu força, sabedoria e o dom. Depois, minha família e minha esposa Jamilly, que nunca me deixaram desistir.” Gutemberg também compartilhou um momento marcante antes da partida contra o Pouso Alegre, que simboliza, para ele, o poder da fé e a importância de quem sempre esteve ao seu lado.
“Antes de eu me apresentar no hotel, meu padrasto, o Cláudio, pegou minha chuteira e começou a orar na varanda. Ali eu falei: hoje meu gol vem. E veio.” Além de recolocar o time no G-4, o triunfo de sábado reforçou a persistência de um jogador que, como tantos outros no futebol brasileiro, carrega nas chuteiras muito mais do que técnica — carrega histórias, cicatrizes e sonhos. Gutemberg e seus companheiros voltam a campo no próximo sábado, às 16h, contra os capixabas do Porto Vitória, novamente no Estádio João Saldanha, em Maricá.
