A capoeira é uma expressão cultural afro-brasileira que mistura luta, dança, música e tradição. Seu desenvolvimento foi profundamente influenciado por duas figuras centrais: Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional, e Mestre Pastinha, o grande nome da Capoeira Angola. Embora suas visões e métodos fossem diferentes, ambos contribuíram enormemente para a valorização e preservação dessa arte ancestral.
Mestre Bimba (1900–1974) – O Criador da Capoeira Regional
Manoel dos Reis Machado, conhecido como Mestre Bimba, nasceu em Salvador, na Bahia, em 1900. Ele é considerado o pai da Capoeira Regional, um estilo que visava dar mais estrutura, disciplina e reconhecimento à capoeira, que à época era marginalizada e até proibida por lei.
Em 1932, fundou a primeira escola de capoeira com autorização oficial: o Centro de Cultura Física Regional, em Salvador, Introduziu movimentos novos, retirou alguns elementos mais folclóricos e incorporou golpes de outras lutas, como batuque (luta praticada por seu pai), Criou uma metodologia de ensino baseada em sequências e graduações. Lutou para provar que a capoeira poderia ser uma atividade educativa e benéfica ao corpo e à mente.
Graças a Bimba, a capoeira começou a ser respeitada como arte marcial e disciplina cultural. Ele também foi responsável por apresentações públicas, inclusive para o então presidente Getúlio Vargas, que declarou a capoeira como o “único esporte verdadeiramente nacional”.
Mestre Pastinha (1889–1981) – O Guardião da Capoeira Angola
Vicente Ferreira Pastinha, conhecido como Mestre Pastinha, também nasceu em Salvador, e é o principal nome associado à Capoeira Angola, estilo mais tradicional, com raízes profundas na cultura afro-brasileira e na resistência dos negros escravizados.
Em 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), também em Salvador, para preservar e ensinar a capoeira como ele a aprendeu dos velhos mestres. Defendia a capoeira como filosofia de vida, rica em valores como respeito, sabedoria e astúcia.
Promovia o jogo baixo, com malícia e movimentos circulares – elementos centrais da Angola. Preservou tradições como o uso do berimbau, as ladainhas (cantigas) e o ritual da roda. Pastinha foi um verdadeiro filósofo da capoeira. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras, nunca deixou de ensinar com paixão e de defender a autenticidade da cultura afrodescendente.
Duas Visões, Um Mesmo Legado
Apesar das diferenças entre seus estilos Regional sendo mais direta e marcial, Angola sendo mais ritualística e tradicional. Mestre Bimba e Mestre Pastinha compartilhavam o mesmo objetivo: a valorização da capoeira como um símbolo da cultura e resistência afro-brasileira.
Hoje, as rodas de capoeira pelo mundo inteiro carregam a herança desses dois mestres, que com dedicação e coragem transformaram uma arte perseguida em patrimônio cultural imaterial da humanidade, reconhecido pela UNESCO.
Fontes históricas e culturais continuam a estudar o legado desses mestres, e praticantes de capoeira, tanto da Regional quanto da Angola, prestam reverência a esses dois pilares da tradição.